quarta-feira, 7 de julho de 2010
Há 20 anos o rock brasileiro se calava!
Personagem do renascimento do rock brasileiro, letrista respeitado pelos fãs da canção popular, ídolo que assumiu publicamente ser portador de uma doença-tabu. Esse cara foi Cazuza, artista sempre lembrado por sua obra no pop brasileiro – e também por sua postura pessoal fora de palcos e estúdios.
Agenor de Miranda Araújo Neto já nasceu com apelido, graças à ascendência nordestina do pai, João Araújo – o termo “cazuza” era sinônimo de “moleque”, no vocabulário do Nordeste. A alcunha se revelou certeira já na adolescência, quando o garoto se mostrava bem mais interessado na vida noturna do Baixo Leblon do que nos estudos. Entre baladas, drogas, mulheres e eventuais encrencas com a polícia, Cazuza decidiu tentar a carreira musical, curiosamente, a partir de uma experiência no teatro – em um papel na peça Paraquedas do Coração, ele tinha de cantar em cena, o que o encorajou a virar vocalista.
Quando o Barão Vermelho – já com Cazuza como cantor e letrista – lançou seu primeiro disco, em 1982, o rock ainda não era um estilo muito popular no Brasil. Depois do deslumbre da Jovem Guarda nos anos 1960, as guitarras haviam ficado relegadas ao circuito underground na década seguinte. O Barão – ao lado de Paralamas do Sucesso, Blitz, Kid Abelha e Lulu Santos – teve a oportunidade de virar esse jogo ao participar da programação do Rock In Rio, em janeiro de 1985, dividindo o palco com estrelas como Queen, Iron Maiden e AC/DC. Deu certo: o rock virou fenômeno de massa no país, e a banda foi um dos símbolos dessa nova era. A imagem que ficou foi a de Cazuza cantando Pro Dia Nascer Feliz na Cidade do Rock no mesmo 15 de janeiro em que Tancredo Neves foi eleito para governar o país, encerrando o regime militar.
Consta que João Araújo – presidente da gravadora Som Livre nos anos 1980 – relutou antes de decidir contratar a banda do filho, temendo eventuais acusações de nepotismo. Na verdade, a principal ajuda paterna já havia sido oferecida em casa: graças ao trabalho do pai, Cazuza conviveu desde cedo com artistas como Caetano, Elis, Gal e João Gilberto e ouviu muito Cartola, Dolores Duran e Lupicínio Rodrigues. Essa parte brasileira na formação do poeta viria a se tornar mais evidente na trajetória solo, iniciada com o disco Cazuza, ainda em 1985, e bem resumida no disco ao vivo O Tempo Não Para, de 1989 – a energia roqueira estava ao lado da sutileza da bossa nova, acompanhando versos como “A tua piscina tá cheia de ratos / Tuas ideias não correspondem aos fatos” e “E se eu achar a tua fonte escondida / Te alcanço em cheio, o mel e a ferida”.
Esse mesmo disco simboliza a agonia pública de Cazuza. Ele fez o show já completamente desfigurado em função da AIDS – havia dois anos que a doença vinha se manifestando, e o artista chegou a dar entrevistas desmentindo que fosse portador do HIV. Bissexual, ele não abandonou o comportamento desregrado – mas sua imagem pública mudou muito em fevereiro de 1989, quando ele assumiu publicamente a condição de soropositivo. O que gerou uma comoção cada vez maior a cada aparição – para receber o Prêmio Sharp para o disco Ideologia (1988), por exemplo, ele estava sentado em uma cadeira de rodas. O álbum duplo Burguesia (1989) é o principal registro sonoro do ocaso do cantor, já quase sem voz para cantar suas próprias letras. Cazuza teve a fama, o sucesso, o amor do público e, com a morte precoce, alcançou o status de mito – como pessoa e como artista, ser exagerado sempre fez parte de seu show.
Fato incontestável é que, quando ele se foi, há 20 anos, deixou uma legião de fãs e um legado personalístico.
Por isso uma programação marca o aniversário de morte do cantor e compositor, 7 de julho. O Multishow, a MTV e a TV Brasil prepararam atrações especiais para a data.
Em Salvador, o destaque é um evento com sede na Biblioteca Pública do Estado da Bahia, nos Barris.
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