Fãs de HQs e zines terão um novo ponto de encontro em São Paulo a partir de sábado (04/06): a loja da Ugra (Rua Augusta, 1371, loja 116), editora voltada a publicações independentes que agora migra parte de seu acervo virtual para um espaço físico.
Criada em 2010, a editora também promove o Ugra Zine Fest, em SP
Criada há cinco anos em uma empreitada de dois amigos, a Ugra é incentivadora de publicações independentes. Com foco em zines e quadrinhos, a empresa, que agora é tocada pelo casal Douglas e Daniela Ustescher, pega carona na nova onda de impressões amadoras, que voltou com tanta força que até ganhou um mercado próprio.
"Para quem fazia zines na década de 1990, é até engraçado que hoje exista um mercado disso. Era tudo que a gente não queria", contou Douglas ao iG.
Mas o crescimento do nicho das publicações é visível até mesmo na popularização da Ugra. Em 2013, a editora abriu sua loja virtual com cerca de 30 títulos. Agora, dois anos depois, eles já vendem quase mil publicações diferentes.
Apesar de admitir que toda a contracultura dos zines e publicações independentes rechaçava ter um mercado próprio, Douglas e sua editora estiveram entre os responsáveis por essa popularização. Depois de pesquisar o assunto para seu TCC na pós-graduação em Design Gráfico, o paulistano percebeu que os produtores de zines estavam desarticulados e resolveu fazer algo a respeito: um anuário sobre publicações independentes.
"Lançaríamos esse anuário numa versão impressa para estabelecer um ponto de referência para quem quisesse saber o que estava acontecendo com os zines naquele momento", disse o empresário. O projeto foi ficando cada vez maior e acabou dando origem ao Ugra Zine Fest, um festival anual sobre zines com debates, palestras e feira de publicações.
A partir daí, a inauguração de uma loja física foi um avanço natural. "Era um passo meio óbvio, a loja virtual é uma experiência muito fria, a hora que o cara consegue manusear a zine é uma experiência mais bacana", contou o empresário, que quer que o novo espaço seja mais que uma simples loja. "A gente quer que seja um espaço bem dinâmico, não só um lugar de compra e venda, mas um ponto de encontro, um catalisador de ideias e possibilidades".
Saudosismo
Os zines ganharam fama nas décadas de 1980 e 1990, mas foi só agora, nos anos 2010, que eles se estabeleceram como uma força no mercado editorial e isso tem muito a ver com o mesmo fenômeno que aconteceu com os discos de vinil. "Eu acho que a volta do zine tem a ver com o resgate de coisas antigas. Eu espero que esse resgate não seja só um saudosismo, não seja uma onda hipster", afirmou Douglas.
Mas, para ele, a força que os zines ganharam nos últimos anos tem mais uma explicação: o fato da publicação ser feita com alma. "O lance da produção em massa pode ser um modelo que cansou muita gente", ponderou. "[O zine] É uma coisa feita de uma pessoa para outras pessoas".
Além de ser fator determinante na retomada da produção, a questão da pessoalidade dos zines também faz com que eles tenham uma vantagem sobre a internet. "Se você faz um blog, está dependente de templates. Para escoar informação, pode ser um meio barato e prático, mas esteticamente empobrece", disse, e esse é o trunfo dos zines. "Quando faz um faznine, você lida com uma folha em branco, qualquer coisa ali cabe".
Mas isso não significa que os zines travam uma batalha contra blogs e páginas no Facebook. "Sempre que eu pensei me comunicar de alguma fora, minha ideia sempre foi o impresso, mas ir para a internet era uma ação complementar", disse o designer.
Quadrinhos em alta
Na onda dos zines, os quadrinhos independentes também estão ganhando cada vez mais destaque. "O quadrinho brasileiro vive um momento muito interessante", contou Douglas.
A qualidade dos autores surpreende até quem está acostumado a receber publicações diariamente. "Recebemos os lançamentos de uma molecada que nunca tínhamos ouvido falar e são trabalhos bem desenvolvidos, bem pensados, com estilo bem marcante".
Por isso, essas publicações terão destaque na loja da Rua Augusta. "A maior parte desse material é publicada de maneira independente, ter uma loja que possa dar um espaço para essa produção é algo necessário", explicou. "É importante que quem produza tenha onde vender, se não a galera desiste".
A nova etapa do sonho de Douglas e Daniela Ustescher começa oficialmente no próximo sábado, mas o casal sabe que o negócio é bastante arriscado. "A Ugra começou de uma forma despretensiosa e virou um projeto de vida, então é um projeto arriscado", disse o empresário, lembrando que os empregos anteriores da dupla mais os estressavam do que os alegravam. "Nunca tivemos a pretensão de ser milionários, estamos interessados em ter a oportunidade de estar envolvidos em coisas que dão prazer", garantiu o designer.
Fonte: ON - Canal de Entretenimento
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